Web Arte - 2ª Parte
- Wikipedia.
- 26 de dez. de 2017
- 6 min de leitura
TELEPRESENÇA
O tempo das redes é o tempo real. Seja por meio do fluxo informacional incessante – lidando cada vez mais com um presente se tornando passado – seja pelo uso do tempo simultâneo, do tempo “ao vivo” – familiar denominação dada pela cultura televisiva. Vários artistas buscam explorar esta instância em suas experimentações, mas na rede – muito diferente da cultura broadcast – a transmissão em tempo real nos primórdios da popularização da Internet esteve muito mais relacionada com a monotonia das imagens de sistemas de vigilância, do que com as atuais possibilidades de transmissão em banda larga. Dos pioneiros, um trabalho de web arte muito conhecido de uso de imagens em tempo real através de imagens estáticas é The Ghost Watcher (1996) de June Houston, onde a artista propõe aos visitantes que através das imagens de câmeras posicionadas debaixo de sua cama, elaborem relatórios sobre o que viram. Há várias câmeras distribuídas pelo espaço, podendo-se vigiar sob diversos ângulos.
Neste contexto há um conceito pertinente: a telepresença. FADON (1997), trata a questão de modo bastante amplo:
Os meios tecnológicos por sua vez, sistematizam essa condição, muitas vezes viabilizando o contato com o “outro” ou mesmo lançando o indivíduo em um novo espaço.
A telepresença está evidenciada nos meios que lidam com o tempo instantâneo e/ou compartilhado como telefone, na televisão, no rádio, na rede Internet, assim como nos sistemas de realidade virtual que reforçam por meio da imersão, uma condição de deixar-se de si mesmo, onde o corpo embora presente exista em função de outra condição. As relações de telepresença e tele ausência são evidenciados em sistemas interativos como na comunicação interpessoal via rede Internet e no universo dos jogos eletrônicos.
Na arte dos novos meios a telepresença proporciona trabalhos nos quais o receptor age ou explora determinado lugar seja físico ou virtual.
O tempo simultâneo e coletivo da rede viabiliza a existência de espaços colaborativos de participação mútua e conjunta entre os visitantes, seja através de dispositivos em espaços fisicamente distantes, em instalações tais quais espaços virtuais, onde o visitante pode ter indícios da presença de uma coletividade ativa – ou, em alguns casos, a telepresença instaurada. Há uma presença condicionada na poética do artista que pode tanto limitar-se a simplesmente oferecer caminhos múltiplos de navegação ou estabelecer convites para ações mais complexas, criativas e efetivas.
Atualmente, a discussão sobre a telepresença já não mais ocupa um lugar de protagonista diante de discussões relevantes do universo da arte e novas tecnologias: com o advento de circunstâncias mais híbridas entre estar conectado e estar simultaneamente no mundo físico, em especial, as discussões sobre uma nova condição híbrida, propõe presenças coexistentes e complementares – e não a exclusividade de experiências a uma ou outra realidade.
A produção artística na rede mundial de computadores – a Internet – se insere no contexto das apropriações artísticas dos meios emergentes, prática comum em toda a história. Como outros meios tecnológicos, a rede não foi concebida com finalidades estéticas – e muito menos, artísticas – cabendo ao artista desvendar caminhos poéticos possíveis em contraponto aos pragmatismos inseridos nas máquinas e nos programas em seu uso convencional. Num primeiro momento, essa apropriação é importante para pensarmos a produção artística na rede Internet – a chamada web arte.
A produção de web arte é antecedida por outros trabalhos realizados em arte telemática. Julio Plaza, por exemplo, é um dos mais importantes nomes da arte telemática no Brasil. Um grande entusiasta da tecnologia do Videotexto: primeiramente, dominando as especificidades técnicas, depois realizando trabalhos, publicações e eventos de grande porte com a participação de vários artistas e poetas. Plaza ainda investigou a fundo a tradução intersemiótica, estabelecendo conceitos para a migração de faturas poéticas de um meio para outro – uma prática que ele mesmo vivenciou várias vezes. E além do Videotexto, temos antecedentes também nas redes artísticas computacionais estabelecidas nos anos 80 para eventos efêmeros – que firmavam estruturas que hoje dispomos em tempo integral.
Pensando o leitor no contexto do espaço expositivo e da web, a produção artística de Eduardo Kac foi sempre exemplar: suas produções como Raravis e Gênesis (2000) propõem que o visitante possa acessar remotamente o trabalho ao mesmo tempo em que se pode visitar e interagir estando no espaço expositivo. São instalações e sites na web, simultaneamente. Especialmente em Gênesis, na qual bactérias são expostas sob uma radiação ultravioleta numa instalação, o papel do internauta é primordial, pois é ele que aciona a luz através de um botão no site do trabalho (mesmo na instalação apenas pela Internet, a luz é acionada).Ao contrário dos trabalhos sob a forma única de sites, que possuem uma duração indeterminada, esses trabalhos possuem uma determinada existência, por conta do período de cada exposição, mas incorporam também a idéia do internauta como o leitor implícito na sua poética.
Mais recentemente, porém, a rede passa a ser pensada num viés mais global, onde cada usuário é parte de uma entidade pulsante, viva e construtiva. Daí abrem-se espaços para trabalhos que lidam com a idéia de emergência – onde há a insurgência de padrões, cabendo ao artista explicitá-los – e ainda, com a idéia de mente global: a rede seria um enorme repositório do nosso imaginário, entidade viva do conhecimento humano. As considerações do artista Roy Ascott (1997: 337) seguem neste sentido:
“A Internet é a infraestrutura crua de uma consciência emergente, um cérebro global. A Net reforça o pensamento associativo, hipermediado, pensamento hiperlincado – o pensamento do artista. É a inteligência das redes neurais. Isto é o que eu chamo de hipercórtex.”
Este artigo foi publicado no catálogo da exposição Cinético_digital, realizada no Itaú Cultural, em São Paulo, 2005. Referência: NUNES, Fábio Oliveira. Ainda Web Arte? In: ITAÚ CULTURAL, Cinético_digital. São Paulo: Itaú Cultural, 2005. pp. 68-70.
Uma internet para os artistas
Ao adotar a Internet como meio, transponho o transeunte urbano para um transeunte virtual. A metáfora da rede como espelho do universo urbano, da própria fluidez (ou a falta desta), multiplicidade de estímulos sensoriais e caos é sempre recorrente, como coloca Christine Mello, curadora do núcleo Net Arte Brasil, na 25ª Bienal de São Paulo (2002):
"Ruas, viadutos, transeuntes e grandes anéis viários: links, interfaces, arquivos e servidores. A própria rede torna-se a própria metáfora da cidade, reproduz no microcosmo informacional, a cena urbana, com todas as suas qualidades e infinitos problemas. Ao problema insolúvel dos engarrafamentos a cidade virtual propõe como solução a banda larga, logo saturada também com o aumento exponencial de sites e acessos. A cidade da informação mantém sua velocidade e seu fluxo na proliferação de avenidas invisíveis, no transporte de mensagens via fibra ótica, fios de cobre e cabos".
Os fluxos urbanos refletem-se no próprio ciberespaço. Aos néons reluzentes, os banners e as janelas pop-up saltitantes. Ao anonimato da multidão, os chats e seus apelidos pouco reveladores. Aos nichos de decadência na cena urbana, os sites de pedofilia, de remédios duvidosos, de sexo como produto. Um submundo telemático.
Assim, partindo das considerações urbanas estabelece-se uma premissa que é especular sobre as expectativas do outro, suas visualidades pré-estabelecidas, suas práticas condicionadas. No meio digital, essas especulações esbarram nas questões de interface que num entendimento mais geral é assim colocada por Pierre LÉVY (1993:181):
"Interface é uma superfície de contato, de tradução, de articulação entre dois espaços, duas espécies, duas ordens de realidades diferentes: de um código para outro, do analógico para o digital, do mecânico para o humano... Tudo aquilo que é tradução, transformação, passagem, é da ordem da interface".
Mais específico, JOHNSON (2001:17-35) discorre:
"A interface atua como uma espécie de tradutor, mediando entre as duas partes, tornando uma sensível a outra. Em outras palavras, a relação governada pela interface é uma relação semântica, caracterizada por significado e expressão (...) um computador pensa – se pensar é a palavra correta no caso – através de minúsculos pulsos de eletricidade, que representam um estado ligado ou um estado desligado, um 0 ou um 1. Os seres humanos pensam através de palavras, conceitos, imagens, sons, associações. (...) O grande drama das próximas décadas vai se desdobrar sob as estrelas cruzadas do analógico e do digital. Como o coro da tragédia grega, filtros de informação vão nos guiar através dessa transição, traduzindo os zeros e uns da linguagem digital nas imagens mais conhecidas, analógicas, da vida cotidiana. Essas metaformas, esses mapeamentos de bits virão para ocupar praticamente todas as facetas da sociedade contemporânea: trabalho, divertimento, amor, família, arte elevada, cultura popular, política. Mas a forma propriamente dita será a mesma, apesar de suas muitas aparências, a labutar continuamente nessa estranha nova zona entre o meio e a mensagem. Essa zona é o que chamamos de interface".
Essa zona de diálogo pode tomar outros rumos que não visam necessariamente uma comunicação objetiva, como é habitual. Muito pelo contrário, aliás, é possível buscar um certo estranhamento em determinadas situações que desvirtuam condicionamentos estabelecidos no meio telemático para expor experiências que questionam nossa sensibilidade e semântica. Nesse ponto, nada mais contundente do que o site Jodi, no qual inspiram-se minhas primeiras experimentações, da mesma forma que influenciou toda uma geração de artistas da web, na busca de uma linguagem coerente com a rede Internet.
O questionamento do suporte – e/ou linguagem – é uma prática que perpassa todos os meios apropriados pelos artistas, persistindo ainda, na pintura como um dos seus pilares de sustentação: a discussão a respeito de elementos constituintes do universo pictórico – tais como linha, representação, espaço – é relevante para muitas pesquisas artísticas contemporâneas.
Este texto foi retirado da Web - Internet e apenas realizamos um recorte. Temos diversas fontes de informação. Termo pesquisado no Wikipedia.
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