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OBRA12

MONSTRAS

O Brasil vive atualmente um contexto de crise, que é expressão do esgotamento dos modos de vida majoritários, dos modos de produção e organização política que deflagram a falência do sistema que por séculos nos colonizou, disciplinou e controlou. "Onde há poder, há resistência" diz Foucault, em um período que vemos nascer uma nova esquerda de mulheres, negros e LGBTs, mas também o aumento do conservadorismo e o  Fortalecimento dos setores de direita em reação à emergência dos novos movimentos sociais minoritários. Estamos em guerra, e o Estado utiliza como tecnologias de poder a necropolítica e
a produção de afetos biopolíticos como o medo, o cansaço, e a desesperança. Precisamos urgentemente criar nossas armas! É neste sentido que o projeto de pesquisa e criação "Monstras" busca investigar o deboche como resistência a partir de uma investigação visual em fotografia, vídeo e desenho das monstras de Fortaleza, que são dissidências de gênero e sexualidade que materializam novos modos de experimentação do corpo, da vida e de ocupação na cidade, que utilizam o deboche como modo de resistência frente à essa crise que se instaura. O que as monstras têm a nos ensinar sobre política? Assim como elas, precisamos ter coragem para enfrentar a rua e reinventar nossa relação com o corpo, com a vida, com a natureza, com o desejo e com a cidade. Nesta guerra, o deboche como arma ético-estético-política é um afeto biopotente de enfrentamento aos afetos biopolíticos do Estado. O projeto "Monstras" nasce desse desejo de resistência. O objetivo é realizar coletivamente com as monstras ações de deboche na cidade, e também realizar uma arqueologia do deboche, resgatando imagens de monstras do passado.

CONCEITO

O projeto busca investigar as monstras da cidade de Fortaleza, que são um conjunto de dissidências de gênero e sexualidade em corpos mutantes (PRECIADO, 2011) que utilizam do close, da moda, do pensamento e do deboche como armas ético-estético-políticas de enfrentamento aos modos de vida majoritários. Procuramos entender como o deboche pode ser usado como um modo de resistência, um novo modo de experimentação do corpo, da vida, e de ocupar a cidade. Para isso, buscamos a partir de uma investigação visual em fotografia, vídeo e desenho captar as forças monstruosas do deboche, de modo que no encontro com essas forças, aconteça uma contaminação mútua entre a forma da linguagem visual e o conteúdo monstruoso do deboche, criando assim uma experimentação estética radical na linguagem que será expressa nas obras de arte ali emergidas. Para monstrualizar a fotografia, queremos injetar e cultivar fungos na lente da câmera, experimentando uma imagem suja, feia e ruidosa. Para isso, estamos atualmente investigando os fungos, em parceria com Laboratórios do curso de Biologia, para entendermos sua proliferação e resistência de sua vida, também nos interessa as imagens científicas produzidas por microscópios e novos modos de experimentação visual com estes equipamentos enquanto utilização de novas tecnologias e dispositivos audiovisuais. Iniciamos contato com o Laboratório de Resistência dos Materiais do curso de Engenharia que usa uma câmera específica para ver o calor dos corpos e filmar no escuro. Para monstrualizar o vídeo, queremos filmar as monstras em seu habitat natural - o escuro das ruas da cidade - colocando assim um problema de como captar estes monstros no escuro, que nos pede uma resposta criativa, inventando uma nova poética do vídeo para captar as monstras - que assim como os fungos - se proliferam em locais frescos, escuros e arejados. Captar no escuro o brilho debochante das monstras, como os pequenos clarões de luz dos vagalumes (DIDI-HUBERMAN, 2009) pequenos, reluzentes e resistentes é uma ação que queremos investigar de diversos modos, como por exemplo o aumento do ISO, que cria uma relação proporcional entre a visibilidade do conteúdo e o ruído da forma, também queremos construir uma máquina-monstro-fotográfica acoplando um strobe de luz estroboscópica à uma hand-cam que captará o conteúdo dançando na coreografia do escuro e do flash luminoso sequencial.

AUTORES

LUCAS OLIVEIRA DE LACERDA   

JORGE REINALDO SILVESTRE DE OLIVEIRA

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FOTOS

DISC DISPOSITIVOAUDIOVISUAL / ICA - UFC / 2018

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